Mulheres somam menos de 15% na Academia Brasileira de Ciências
Como é ser mulher, cientista e pesquisadora no Brasil? É a essa pergunta que responde um estudo divulgado em dezembro de 2017. Uma parceria entre a USP, UFPA e duas universidades inglesas revelou o perfil geral dos pesquisadores brasileiros. O estudo avalia a situação dos bolsistas do CNPq e dos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Analisando cada área do conhecimento e dividindo o perfil entre os cursos e o sexo dos entrevistados, o estudo confirma o pouco espaço feminino na ciência.
Segundo a pesquisa, a Academia Brasileira de Ciências é formada apenas por 14% de mulheres, ou 126 cientistas, em um total de 899 membros. Entre os dados do estudo, chama a atenção a área de exatas, que possui menor representatividade feminina. Na ABC, as pesquisadoras vinculadas às Ciências Exatas somam 8,9%, um grande contraste com os homens, que representam mais de 90% do grupo.
As subáreas analisadas no estudo ainda destacam os cenários mais preocupantes paras as pesquisadoras. Engenharia Mecânica e Matemática possuem alguns dos piores índices, com números abaixo de 10% de mulheres membros. Física também possui percentuais pequenos: as pesquisadoras somam 11,1%, contabilizando somente 101 mulheres contra 806 homens. Apesar do número ainda ser muito baixo, o cenário melhora um pouco na Engenharia Civil, que conta com 21% de pesquisadoras.
Em alguns órgãos mais específicos, como o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), podemos ver de forma prática a falta de mulheres nessa área. O órgão é ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e é voltado para a pesquisa e pós-graduação em Física. De acordo com a lista de docentes divulgada no site da instituição, entre 68 professores, apenas 9 são mulheres, somando um pequeno percentual de 13,2% de participação feminina.
O baixo número de professoras e pesquisadoras na instituição trouxe a necessidade de um espaço para denúncias: a Ouvidoria da Mulher do CPBF. O objetivo da ouvidoria é estabelecer uma comunicação com as mulheres vinculadas à instituição, orientando-as na busca pelos seus direitos e encaminhando denúncias das vítimas de violência e crimes de gênero.
As estatísticas apresentadas na pesquisa refletem também o panorama de algumas universidades. De acordo com o estudo, as pesquisadoras na área de Engenharia Elétrica somam 4,6%, representando aproximadamente 1 mulher a cada 20 homens. Na Universidade Federal Fluminense o cenário é um pouco pior: o departamento do curso de Engenharia Elétrica não possui professoras. Cabe, então, à única mulher do departamento a função de secretária, reforçando estereótipos e o pequeno espaço para a mulher na ciência.
Originally published at http://www.jornalocasarao.com, on April, 2018.